Na sessão desta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, os vereadores receberam a escritora curitibana Liamir Santos Hauer. Aos 100 anos de idade, completados no último dia 9, a convidada acompanhou a discussão do projeto de lei para homenageá-la com o Vulto Emérito da capital paranaense. Autor da proposta, Mauro Ignácio (União) lembrou que essa é a honraria mais importante que a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) entrega a pessoas de destaque, nascidas na própria cidade.
O projeto de lei foi aprovado em primeiro turno unânime, com o apoio de 27 vereadores, e retorna à pauta, na sessão da próxima segunda (13), para a votação final (007.00005.2022). “Eu entendo que as melhores homenagens, o reconhecimento, devem ser feitos em vida. E a dona Liamir está muito bem com seus 100 anos”, disse Ignácio, segundo-vice-presidente da Casa. “Quando conheci a história dela, fiquei encantado. E quando a conheci pessoalmente, fiquei mais encantado.”
Nascida em Curitiba, em 1923, Liamir foi, além de escritora, enxadrista, trapezista circense, primeira-dama de Curitiba e escriturária concursada do governo paranaense. Atou na Biblioteca Pública do Paraná, na Escola de Música e Belas Artes, no Centro Audiovisual e na Biblioteca do Colégio Estadual Professor Guido Straube. A homenageada é ainda integrante do Centro de Letras do Paraná, do Centro Paranaense Feminino de Cultura, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, da Academia de Cultura de Curitiba, da Soberana Ordem do Sapo e da Academia Feminina de Letras do Paraná.
Em vídeo exibido em plenário, a homenageada contou um pouco de sua história de vida. “Eu nasci na terça-feira de Carnaval, ali na Carlos de Carvalho. […] o corso [desfile] era na Carlos de Carvalho e a parteira estava do lado da rua de lá, não tinha asfalto, não tinha calçada, nada, e ela não podia atravessar para fazer o parto porque o corso era ali. Passava carroça, serpentina, os blocos. E quando ela chegou lá eu já estava quase plantando bananeira no chão”, brincou. “E desde aí, não parei de plantar bananeira. Minha via foi um picadeiro.”
“Mulher muito à frente de seu tempo. Mulher determinada, extrovertida, sem medo de desafios. Estamos falando na década de 1930”, falou Ignácio. “Foi uma das primeiras mulheres a dirigirem em Curitiba, tendo as noites para sair com o capote e chapéu do marido, a fim de não ser molestada por estar guiando. Manteve a CNH e dirigiu por Curitiba até os 93 anos de idade.”
Na condição de primeira-dama, quando a Prefeitura de Curitiba teve à frente seu primeiro marido, o advogado Ernani Santiago de Oliveira (1912-1981), ela acompanhou, por exemplo, a inauguração da avenida Manoel Ribas, então estrada do Cerne. Liamir é autora dos seguintes livros: O Circo (2000), O Circo Pegou Fogo (2001), Rescaldo (2002), Prá Lá de Marrakech (2003), Do Trapézio para o Mundo (2005) e Desafio à Memória: a cada foto, mil lembranças (2014).
Diploma077.00043.2023).
Liamir recebeu, nesta manhã, o diploma de votos de congratulações e aplausos pela comemoração de seus 100 anos de vida. A iniciativa, proposta pelo vereador Tito Zeglin (PDT), havia sido aprovada na sessão plenária de 14 de fevereiro (“Um voto de louvor pelos 100 anos que a senhora comemorou”, disse Zeglin. “Quantas transformações a senhora presenciou”, completou o vereador, ressaltando a “fribra” de Liamir e a gestão de Ernani Santiago. “Os aplausos à senhora Liamir, esse exemplo de vida que vem inclusive neste dia importante, que é o Dia Internacional da Mulher”, reforçou o presidente Marcelo Fachinello (PSC).
Rodrigo Marcial (Novo) definiu a data como “histórica” para ele e a colega de bancada, Amália Tortato, que, devido à “excepcionalidade” decidiram apoiar o título. O Novo, afirmou Marcial, costuma votar contra projetos semelhantes pelo “risco” de uso político das homenagens.