POLONESES, POLACOS, BRASILEIROS, 150 ANOS DE HISTÓRIA NO PILARZINHO

Igreja São Marcos no Pilarzinho. Foto: Daniel Castellano

No início dos anos 80, do século XIX, 34 famílias de poloneses, das 36 que haviam imigrado da Polônia, nos anos 1869, 1870 e 1871, para a região da atual cidade de Brusque, Santa Catarina, mas por encontrarem problemas vários não se adaptaram e buscam sair para lugares melhores. Se apoiam então nos “patrícios”, Sebastião Edmundo Wos Saporski e no padre Antoni Zielinski, que através de amizades na corte do Império do Brasil e no governo da Província do Paraná, conseguiram autorização para transmigrarem para a nova Província. O espaço a eles destinados foi na Colônia do Pilarzinho, que já era habitada por africanos, caboclos descendentes de portugueses, alguns ameríndios, alemães, suiços e austríacos.

A Colônia do Pilarzinho, anteriormente chamada de 3º Quarteirão de Curitiba, ia desde o Cemitério Municipal São Francisco até o atual Parque Tanguá e Rua João Gava, ao norte, e desde a Rua Mateus Leme até a face esquerda do Rio Barigui a oeste, na Região do Parque Tingui.

A entrada dos colonos que se dirigiam à Colônia Pilarzinho, era através da antiga Rua América, atual Rua Trajano Reis, ao lado da Igreja do Rosário, e desta, na atual “Praça do Skate, ou Praça do Gaúcho”, iniciava o Caminho do Pilarzinho, até o Rio Barigui, mais tarde com as subdivisões dos bairros esta estrada foi recebendo outros nomes, sendo o trecho mais longo a atual Avenida Desembargador Hugo Simas. Por isso é falso afirmar que os primeiros colonos entraram pela antiga Estrada do Assungui, pois se já existia uma “Pensão do Imigrante” na Estrada do Pilarzinho, conforme dados do Ministério dos Negócios da Agricultura, do Império do Brasil, estes entravam pelo caminho normal.

A partir do dia 30 de setembro de 1871, e nos próximos, chegaram de carroções desde o Porto de Antonina, os familiares, mulheres e crianças, dos polacos transmigrados: Fabian Barcik, Grzegorz Hyla, Bernard Fila, Baltazar Gbur, Kasper Gbur, Baltazar Gebza, Leopold Jeleń, Stefan Kachel, Antoni Kania, Franciszek Kania, Andrzej Kawicki, Marcin Kempka, Filip Kokot, Błażej Macioszek, Szymon Otto, Walenty Otto, Andrzej Pampuch, Wincenty Pampuch, Bonawentura Polak, Franciszek Polak, Paweł Polak, Marcin Prudlik, Michał Prudło, Józef Purkot, Józef Skroch, Dominik Stempka, Tomasz Szajnowski, Tomasz Szymański, Szymon Purkot, August Waldera, Walenty Weber, Mikołaj Woś, Ignacy Miłek, Jakub Nalewaja.

Monumento ao Semeador, Praça Eufrásio Correia, inaugurado no dia 15 de fevereiro de 1925.

Em princípio, estas famílias foram alojadas em casa de chacareiros alemães e austríacos e na pensão, até que se medisse lotes para eles na região. A Câmara Municipal de Curitiba que foi acionada pelo Governo da Província, buscou instalá-los em terrenos de sua propriedade nos arrabaldes da capital. Por isso, a maioria deles ficou definitivo no Pilarzinho, mas outros após permanecerem um período acabaram se instalando nas Mercês e no Quarteirão do Paiva, atuais Bigorrilho e parte do Batel e Campo Comprido. Por isso se encontra estes sobrenomes originais pela região, além de terem ao longo do tempo se espalhado por outras colônias também.

Dez anos depois, chegam na colônia também os italianos e algumas famílias de franco argelinos que viviam até então na Região do Bacacheri e foram formando a grande “colcha de retalhos” com as várias etnias que já estavam instaladas ali.

Como a Polônia seguia ocupada e repartida pelas potências vizinhas, Prússia, Rússia e Império Austro Húngaro, outros poloneses que tinham referências por correspondências, de amigos e parentes, foram chegando e comprando terras na região.

Embora a República da Polônia tenha reconquistado a independência a partir de 1918, seu território já sofria assédio constante da Rússia comunista, sem saber que o pior viria. A Alemanha hitlerista invade o território da República da Polônia, em 1939, que fragilizada, tem o seu povo novamente escravizado, com parte sendo levada para trabalhos forçados em campos industriais, propriedades rurais e até nos lares dos alemães, outro tanto sofreu com fuzilamentos em massa por se oporem aos invasores, além dos poloneses de religião judaica que eram levados para os campos de extermínios por processos químicos no seu próprio território.

Com o final da II Guerra Mundial, em 1945, a Polônia devastada, seu povo enfraquecido e sem direitos, pois as potências vencedoras acordaram que os territórios poloneses seriam integrados à União Soviética, com uma administração polaca subserviente à Moscou. Sem poderem voltar para a sua Polônia amada, os polacos sobreviventes que estavam perambulando por território alemão e vizinhos foram sendo reunidos pela Cruz Vermelha Internacional, subvencionada pelas potências vencedoras da guerra, interessadas mais em aproveitar esta massa humana e trabalhadora do que por razões humanitárias, dando-lhes destinos conforme o interesse dos parceiros sentados à mesa a dividir um botim.

Reuniam então em grandes grupos os interessados em buscar novos rumos, os quais eram disputados pelos governos e empresas canadenses, norte americanos, ingleses e franceses, principalmente. Praticamente se leiloava os intelectuais, profissionais liberais, de preferência solteiros ou casais sem filhos, separando novamente famílias inteiras, irmãos sendo separados de irmãos, sem nenhum pudor, apenas por interesse dos novos tutores de órfãos de pátria.

As famílias com filhos pequenos ou com os adultos sem muita qualificação profissional iam ficando rejeitados, sem interesse das grandes potências, sem nenhum respeito com o ser humano, mas aí entra o Brasil, que, carente de mão de obra e com uma visão administrativa mais humanizada, acolhe milhares dessas famílias. Para Curitiba e região vieram muitos, e novamente o agora Bairro do Pilarzinho é berço de imigrantes polacos, que após passarem por algumas regiões onde foram maltratados, acabaram se juntando por sua própria conta, em um loteamento lançado no final dos anos 40, a Vila Joana Stocco.

Quando pesquisávamos sobre esta vila, entrevistando famílias, nos chegou às mãos uma carta de um rico fazendeiro do interior de São Paulo a um aparentado europeu ligado à Cruz Vermelha, pedindo uma quantidade destes sem pátria e sem teto, para serem usados na expansão das suas lavouras de café. E é claro que novamente estas famílias foram exploradas até que conseguissem ganhar algum dinheiro e virem por conta própria se instalar no Pilarzinho, sem nenhuma ajuda, diga-se de passagem dos órgãos oficiais, apenas orientados e sustentados no início por organismos da Igreja Católica.

Esta região recebeu tantos imigrantes, poloneses, ucranianos, alemães e russos, que acabou sendo rebatizada de Vila dos Imigrantes, ocupando uma área de umas oito quadras, na região da Rua Dona Branca do Nascimento e adjacências, a partir de 1948 e até o início dos anos 50. Famílias com membros poloneses, registramos os casais, Maria e Jan Pietras, Waléria e Wiktor Baran, Zofia e Jan Steckowicz, Maria e Jan Mik, família Wozniak, família Kapusta, casal Antonina e Wladislau Tomadzewski, Janina e Stanislaw Pawlik, Maria e Antoni Mirecki, Maria e Michal Stepniowski, Maria e Marian Szuba, Helena e Jan Matula, Ewa e Roman Rzepkowski, Maria e Marcin Pawlowski, Gertruda e Stefan Ratajczak, Ewa e Waclaw Ciurzynski.

Placa da obra de João Zacco Paraná, no monumento ao semeador que a Colônia Polaca ofereceu em comemoração aos 100 da Indepência do Brasil.

Ao todo, sabemos que se instalaram nesta nova gleba polaca em torno de 23 famílias, mas ainda não conseguimos entrevistar familiares de todos para entendermos a saga destes sobreviventes de guerra e vencedores das agruras da vida pela falta de apoio de quem poderia ter-lhes diminuído o sofrimento. Até hoje viviam e já se espalharam por aí, como verdadeiros anônimos, pois não constavam sequer das estatísticas oficiais, por serem em sua maioria, pessoas simples, trabalhadoras, sem tempo de fazerem politicagem ou formarem alas políticas nas sociedades étnicas.

O lugar comum na história de vida deste grupo é, tinham que trabalhar duro, geralmente os homens nas pedreiras, calçamento de ruas com paralelepípedos, curtumes da região ou construção civil e as mulheres como trabalhadoras do lar, para pagarem as prestações dos terrenos, comprarem materiais de construção para refazerem as suas vidas. Mas com prazer testemunhamos que são todos de altíssima retidão de caráter e socialmente integrados com todos os demais povos que formam o próspero Bairro do Pilarzinho. Hoje, deste “gueto” temos filhos e netos profissionais liberais do mais alto nível de representatividade e até industriais, mostrando que a tenacidade do povo dessas etnias é ilimitada.

Para comemorar estes 150 anos de colonização polonesa no Paraná, o Núcleo BRASPOL do Pilarzinho, legítimo representante étnico-social da região onde tudo se iniciou, preparou uma bonita festa para o próximo dia 30 de setembro, onde juntamente com autoridades representantes do Governo da República da Polônia, autoridades representativas do Estado brasileiro, autoridades eclesiásticas, membros das famílias imigrantes e as demais etnias, com o seguinte programa:

15h lançamento de um selo comemorativo à efeméride, em parceria com a Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafo.

18h30 descerramento de uma placa comemorativa à chegada dos primeiros imigrantes polacos, em monumento ao lado da Igreja Matriz da Paróquia São Marcos e plantio de mudas de erva mate.

19h Santa Missa solene, presidida por Dom Rafael Biernaski e concelebrada por seis sacerdotes.

Logomarca oficial da comemoração dos 150 anos de imigração polonesa no Paraná

Descrevendo o selo que será lançado às 15h do dia 30 próximo no belíssimo Memorial de Curitiba, à Rua Dr. Claudino dos Santos, 79, Bairro São Francisco, assim se manifestou a Presidente da Comissão Organizadora, Marilia Regina Manikowski Pietruk: “O nosso selo é composto de dois aros entrelaçados, coroados com as bandeiras da República da Polônia e do Brasil, encimados pelo dístico Sto lat, sto lat. A leitura que a Comissão Organizadora propôs e o desenhista Alisson Lopes dos Santos executou, pretende passar que, um povo muito sofrido deixou o seu pais ocupado por opressores, em navio a vapor e velas com o pensamento em um melhor futuro no Brasil, aro da esquerda. Após passar um período de dois anos na Região de Brusque, Santa Catarina, onde também não se houve bem, transmigrou para a Província do Paraná, nos arrabaldes de Curitiba, tendo chegado com suas famílias em carroções de tração equina, dia 30 de setembro de 1871, desde o Porto de Antonina à Colônia do Pilarzinho. Aí descansou à sombra dos pinheirais que lhes acolheram, mas seguiram com os corações saudosistas da pátria mãe, Polônia, aro da direita. E aqui, graças a hospitalidade característica de africanos, portugueses, alemães e outros povos que já viviam nestas paragens, se entrelaçaram formando um só povo, o povo curitibano e paranaense, para hoje jubilar-se com o sentimento de Sto lat, sto lat, que em tradução livre pode ser “FELIZ ANIVERSÁRIO”, por este sesquicentenário”

O selo foi produzido através de parceria do Núcleo BRASPOL do Pilarzinho com o Ministério das Comunicações através da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Sobre esta parceria a Presidente Marília assim se manifestou: “Olha nós do Núcleo Pilarzinho não podemos deixar de tornar público o alto grau de profissionalismo no atendimento da Empresa de Correios e Telégrafos, destacando o carinho atencioso dos seus colaboradores, Lucirene Ribas e Ismael Souza”. “Também aqui, sobre este evento cabe um agradecimento especial ao coordenador de etnias da Fundação Cultural de Curitiba, Carlos Hauer Amazonas de Almeida, pela parceria no atendimento junto ao Memorial de Curitiba”, emendou a Presidente Marília.

Para quem comparecer no Memorial de Curitiba ao lançamento do selo comemorativo, ainda desfrutará de belíssimas apresentações de alto nível, do Grupo Polonês do Paraná Wisla, com coreografias preparadas pelo experiente coreógrafo Lourival Araújo Filho.

Quando concebeu a programação o Núcleo BRASPOL do Pilarzinho, com apoio decisivo do Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, da Prefeitura Municipal de Curitiba, da Câmara de Vereadores através do Vereador Mauro Ignácio e de entidades da Igreja Católica Apostólica Romana, teve como objetivo homenagear toda a comunidade ordeira e progressista que forma região do Pilarzinho.

Na programação e planejamentos o Núcleo BRASPOL do Pilarzinho contou ainda com a parcerias e apoios do Núcleo BRASPOL de Almirante Tamandaré, da Casa da Cultura Polônia Brasil, Paróquia São Marco do Pilarzinho.

Sobre as razões da homenagem às 34 famílias de imigrantes polacos que se fará em monumento próprio ao lado da Igreja Matriz São Marcos, no Pilarzinho, Marília Pietruk, Presidente da Comissão nos explicou o seguinte: “Vejam, quando os primeiros imigrantes chegaram na então Província do Paraná, além de produzirem grãos e outros alimentos, também criavam animais para subsistência, além de prover o núcleo urbano da capital com o alimento necessário, pois tinha esta imigração a finalidade de substituir a mão de obra escrava que se encaminhava para o processo de Abolição em 13 de maio de 1888.

A maioria dos polacos aptos para o trabalho, além de se empregarem na construção e manutenção de estradas até que suas propriedades começassem a frutificar, se empregavam no extrativismo e nos engenhos de erva mate, inclusive região norte de Curitiba havia três grandes engenhos de beneficiamento do chamado ouro verde, à época.

E nós do Núcleo BRASPOL do Pilarzinho queremos homenagear a nossa querida Curitiba, perenizando este ciclo econômico através do plantio de duas mudas de erva mate (ilex paraguaiensis) doadas pelo descendente de poloneses, produtor e beneficiador ervateiro do Município de São Mateus do Sul, onde também é Vice-Prefeito, o excelentíssimo senhor Adão Brudnicki Staniszewski”.

Ao longo das pesquisas desenvolvidas por membros do Núcleo BRASPOL do Pilarzinho, foi localizado um bisneto, João Carlos Hey, do primeiro carroceiro, Felipe Hey, a chegar nos pagos do Pilarzinho, trazendo mudança de polacos em 1871, bem como descendentes das primeiras famílias, aquelas que chegaram dia 30 de setembro de 1871, Stella Otto, Lúcia Otto (trineta e bisneta respectivamente de Grzegorz Hyla) e Mauro Longaretti Kraenski (trineto de Ignacy Milek e Filip Kokot), os quais representação seus ascendentes entregando às autoridades algumas mudas de erva mate para plantio junto ao monumento.

Por meio de um marco em formato de folha de erva mate, o Núcleo BRASPOL do Pilarzinho quer prestar tributo às primeiras famílias e seus descendentes. Em uma rocha que simboliza as virtudes e a resistência do povo migrante, considerando estes, os verdadeiros semeadores que o primeiro Cônsul da República da Polônia em Curitiba deve ter pensado quando mandou erigir o monumento ao semeador na Praça Eufrásio Correia, por ocasião do 1º Centenário da Independência do Brasil em 1922.

Perguntamos ainda à Presidente da Comissão. Marília qual a mensagem deixada por esta festa? “A principal mensagem é que se deve sempre pesquisar os nomes corretos das pessoas antes de se dar-lhes publicidade, em respeito às suas identidades. Que se busque sempre homenagear os que se sacrificaram lá atrás, para construírem este progressivo Estado do Paraná. Nós do Núcleo BRASPOL do Pilarzinho consideramos os 34 chefes das primeiras família, acrescidos de Jeronymo Durski e Sebastião Edmundo Wos Saporski, os verdadeiros semeadores da polonidade no Paraná, nós, os demais que viemos na sequência, não passamos de colhedores. Que se homenageie sempre a quem de direito e que as lideranças de qualquer etnia tenham a humildade de reconhecer os feitos de quem de direito para não se auto promoverem. Fazemos aqui um pedido, para que os povos das diferentes etnias não abandonem as suas culturas, suas origens, mas busquem a convivência com todos os demais povos migrantes, pois nativos nesta Terra de Santa Cruz só os povos indígenas, nós europeus, africanos ou asiáticos, viemos depois, cedo ou tarde. Muito obrigado a todos que contribuíram com os nossos esforços para prepararmos a festa que pretendemos fazer no próximo dia 30 de setembro”.

 

Colaboração: Volnei Lopes da Silva, Pesquisador.

Deixe uma resposta

Next Post

Governo lança edital para instalação de nova iluminação no Contorno Sul de Curitiba

O Contorno Sul de Curitiba ficará mais seguro para motoristas e pedestres. O trecho de 14,6 quilômetros, entre as intercessões com a BR-277 (km 587) e a Linha Verde (km 601), vai receber nova iluminação, toda em LED. O edital que dá início ao processo de intervenção foi lançado nesta […]
%d blogueiros gostam disto: