FAMÍLIA WEIGERT – PARTE I

O antigo moinho da família Weigert, construído aproximadamente em 1890, está localizado às margens do Rio Barigui na divisa dos municípios de Curitiba e Almirante Tamandaré e durante muito tempo foi procurado por aqueles que precisavam de farinha de milho. Hoje, esta imponente edificação, não desempenha mais sua função original, mas continua compondo um cenário histórico, em conjunto com as demais construções, em contato direto com a paisagem natural.

Em 1818 vieram famílias alemãs para Ilhéus, na Bahia, e em 1919, suíços e alemães a Nova Friburgo, província do Rio de Janeiro (WANKE, 1993, p. 17). Depois de declarada a independência do Brasil em 1822, o interesse do Governo Imperial pela imigração, especialmente a germânica, prosseguiu alta, possivelmente devido ao casamento de D. Pedro I com a arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina Josefa Carolina de Hamburgo. Após esta união matrimonial teve início um longo período de imigração desde o começo do século XIX até, praticamente, a primeira metade do século XX. Em 1824 foram instalados os primeiros alemães em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, cujo nome foi dado em homenagem à imperatriz Leopoldina.

Em solo paranaense, Hans Staden foi o primeiro alemão, em 1548, a passar no porto da barra de Superagui. Nesta região foi estabelecida, em 1852, pela União Colonial, a colonização alemã de Serra Negra (FUGMANN, 1929, p.11). Desde 1859 há registros em Assungui (PROSSER, 2004, p.38), núcleo formado por remigrados de Santa Catarina, tendo como diretor da colônia Karl Gottlieb Wieland e acabaram se transferindo para Curitiba.

A partir dos anos 1870 vieram para a América a maioria dos alemães que procuravam uma situação melhor de vida, sejam plantadores, artesãos ou comerciantes (FUGMANN, 1929, p.17). Em 1872, segundo registros históricos, a presença de alemães no núcleo urbano já era notável. Eles iniciaram o processo de industrialização, metalurgia e gráfica, incrementaram o comércio, introduziram modificações na arquitetura e disseminaram hábitos alimentares. Difundiram também a noção de associativismo. No almanaque de 1877, de José Ferreira de Barros, encontram-se muitos nomes de emigrados cujo idioma era o alemão, bem como suas profissões e posições no Paraná. Entre eles, na região de Curitiba e arredores, constam os chamados engenhos de serra, serralherias instaladas às margens dos rios, utilizando a força da água como propulsora dos equipamentos de corte da madeira, dentre os quais um proprietário de nome Guilherme Weigert. Constam outros homens de mesmo sobrenome, com as respectivas profissões: José, fábrica de cerveja; Fernando, moinho; Carlos Heinrich, Carlos e Germano, açougues.

Os motivos que trouxeram as famílias alemãs ao Brasil vão além de promessas de uma vida melhor, possuíam também razões políticas somadas aos fatores econômicos. Apesar de serem camponeses de origem, grande parte dos imigrantes já haviam deixado o campo em seu país, passando a desenvolver ofícios citadinos, se inscrevendo como agricultores para conseguir migrar. Em solo nacional, tornavam-se homens trabalhadores e disciplinados, determinados a contribuir para o progresso econômico e constituir uma nova vida a partir de um novo formato de Estado.

 

A FAMÍLIA WEIGERT

O sobrenome Weigert é composto de dois elementos que derivam do Antigo Alto Alemão: “weig” que baseia-se no termo “wigen” que significa lutar, batalha” e “ert” que advém de “hart” e representa o forte, bravo. Algumas variantes encontradas são Weichert e Weikert.

A origem desta família é a Silésia, importante região econômica, cuja capital hoje é Breslau (Wroclaw) e pertence à Polônia. Fez parte da Prússia durante o Sacro Império Romano de Nação Germânica, no reinado de Frederico, o Grande (1740–1786). Na guerra dos sete anos, de 1756 até 1763, a Áustria pretendia recuperar esta província, mas acabou derrotada pelos prussianos em 1757. Após os acordos de paz em 1763, a região foi devolvida à Saxônia, mantendo uma população predominantemente de língua alemã até o século XX.

Conforme os registros históricos, foi da região de Breslau que partiram quatro irmãos de sobrenome Weigert rumo ao Brasil (WANKE, 1993, p. 103). O primeiro deles, Ferdinand, moleiro e depois açougueiro, nascido em 1831 emigrou para Curitiba via Colônia Dona Francisca em 1869. Casou-se com Augusta Wisma e teve seis filhos, e numerosa descendência, falecendo em 1902. No almanaque de 1877, de José Ferreira de Barros, consta o seu moinho na região do Rocio.

O segundo irmão a migrar foi Wilhelm (Guilherme) Weigert, em 1870, cujo nome consta no mesmo almanaque como proprietário de um engenho de serra. É dos seus descendentes o moinho de milho instalado às margens do rio Barigui. O possível terceiro irmão a se instalar em Curitiba foi Carlos Weigert, Deputado Estadual em 1891 (NICOLAS, 1964), morador do Umbará, cuja partilha amigável de sua propriedade, realizada em 1892, consta no Arquivo Público do Paraná. Era pai de Carlos, João Albino Frederico, Fernando e Guilherme, conforme informações do Periódico A República de 1898 e 1892. O quarto e último irmão foi Hermann (Germano) Weigert, nascido em 1841, casado com Anna Pauline Hänzel. Veio sozinho ao Brasil em 1879, contratado pela Compagniedes Chemins de Fer Brèsiliens, para trabalhar na construção das estradas de ferro no Paraná. Após um ano sem notícias do marido, Anna vendeu todos os bens e migrou com os quatro filhos Marie, Robert, Marta e Ida. Os outros filhos do casal nascidos em Curitiba foram: Carlos, Alfredo, Oskar, Germano e Eduardo. Depois de concluída a estrada de ferro, fixou-se em Curitiba, onde foi açougueiro (Wanke, 1993, p. 108).

Segundo registros da imigração, consultados no Arquivo Histórico de Joinville2, Guilherme Weigert e sua família fizeram a viagem entre os continentes em menos de três meses, a bordo do navio Normen, saindo do porto de Hamburgo no ano de 1870 com destino ao Porto de Dona Francisca, em Santa Catarina.

Todos os filhos do casal viveram em Curitiba e arredores, gerando descendentes. Havia dúvidas se Carlos que veio bebê no navio, e depois adotou a profissão de moleiro, era filho ou irmão de Guilherme nas pesquisas realizadas por Eno T. Wanke (Wanke, 1993, p. 105). Devido à disparidade de idades entre os supostos irmãos e demais registros de propriedades e casamentos encontrados, pressupõe-se que o irmão imigrante foi de fato o já citado Carlos Weigert, morador do Umbará.

O Casamento de Carl Weigert e Emilie Othilia Peplow  foi o 13º realizado no ano de 1893, no dia 11 de novembro. Constam registrados no livro os pais do noivo: Wilhelm Weigert e Rozina Kühn; Os pais da noiva: Ferdinando Peplow e Dorothea Riens; Data de nascimento do noivo: 13 de dezembro de 1869, Breslau; data de nascimento da noiva: 28 de fevereiro de 1872 e testemunhas. Desta união nasceram dez filhos, quatro deles falecidos ainda bebês, conforme registro de óbitos do Cemitério Luterano de Curitiba cujos pais estão informados:

 – Olga Ida Emma Weigert, nascida em 09 de maio de 1894 e falecida em 11 de fevereiro de 1895.
 – Gustav Hermann Weigert, nascido em 24 de abril de 1895 e falecido em 12 de julho de 1895.
– Ida Ammanda Weigert, falecida em 18 de janeiro de 1906, com quatro meses.
– Ottilie Weigert, falecida em 23 de julho de 1907, com quatro meses.

Os outros seis filhos chegaram a fase adulta:

– Germano (Hermann) Rodolfo Weigert, nascido em 09 de maio de 1896 e falecido em 18 de agosto de 1978.
– Carlos Ernesto (Ernest) Weigert, nascido em 19 de setembro de 1897 e falecido em 03 de agosto de 1972.
– Guilhermina (Willermine) Weigert, nascida em 1899.
– Rosa Weigert, nascida em 1900.
– Bertha Weigert, nascida em 27 de agosto de 1903 e falecida em 04 de maio de 1984.
– Helena Weigert, nascida em 20 de maio de 1908 e falecida em 01 de fevereiro de 1997.

Todos se casaram, assim como os pais, na Igreja Luterana e o registro dos matrimônios consta no Livro de Ofício – Casamento Livro 03:

– 14 de junho de 1910: Heinrich (Henrique) Voss, (filho de Adolf e Margateth Voss) e Willermine (Guilhermina) Weigert.
– 28 de março de 1920: Carlos Ernesto (Ernest) Weigert e Lydia Wanke (Ida Emma Wanke, filha de Robert Wake e Marie Wondler). Sem filhos.
– 24 de julho de 1920: Karl (Carlos) Voss (filho de Adolf e Margateth Voss) e Rosa Weigert.
– 22 de junho de 1921: Herman (Germano) Rodolfo e Lúcia Adelaide Wanke (filha de Robert Wake e Marie Wondler). Desta união nasceram quatro filhos, chegando três à fase adulta, como será descrito a seguir.
– 24 de julho de 1922: Rudney Köerbel e Bertha Weigert.
– 24 de outubro de 1925: Ernest (Ernesto) Becker e Helena Weigert. Tiveram três filhos.

Na foto abaixo, o registro mais antigo em imagens da família, estão presentes as três irmãs de sobrenome Wanke, sentadas, com os respectivos maridos em pé atrás de cada uma delas, da esquerda para a direita: Artur Kormann (nascido em 1895), Carlos Ernesto Weigert e Germano Rodolfo Weigert, os dois últimos também irmãos. As mulheres: Hermínia Kormann (nascida em 1898), Lydia (Ida Emma) Weigert e Lúcia Adelaide Weigert. A criança não foi identificada, mas pode ser um dos dois filhos do primeiro casal.

Imagem da família na década de 1920. Acervo da família

Germano Rodolfo e Adelaide Lucia tiveram quatro filhos. A primeira, Irene Weigert, nascida em 13 de maio de 1922 faleceu no dia 14 de novembro do mesmo ano. A segunda foi, Izoldy Weigert, nascida em 17 de dezembro de 1923, falecida em 11 de junho de 2006, foi casada com José Bruzamolin, sem filhos. A terceira, Hilda Adelaide Weigert, nascida em 17 de março de 1925, falecida em 29 de maio de 1996, foi casada com Carlos do Rego Barros. Ficou viúva precocemente e não tiveram filhos. O caçula foi Waldemar Carlos Weigert, nascido em 09 de setembro de 1929, falecido dia 20 de junho de 1999. Foi casado com Maria Ruth de Andrade Weigert, nascida dia 11 de outubro de 1929, falecida em 08 de novembro de 1999. Na imagem abaixo, possivelmente do início da década de 1940, está o casal, Germano e Adelaide com os filhos, Izoldy, Waldemar e Hilda (em pé, da esquerda para a direita).

Foto da família. – Acervo família

Da união de Waldemar e Ruth nasceram três filhos. O primogênito foi Wilmar, nascido em 02 de outubro de 1951. Wilson Weigert foi o segundo, nascido em 05 de agosto de 1954 e a caçula foi Wilcélia, nascida em 22 de setembro de 1955. Todos geraram descendentes. Wilson Weigert casou-se com Eliane de Fátima Straiotto em 06 de julho de 1979. Tiveram dois filhos, Ivilyn, nascida em 30 de julho de 1981 e Giovanni, em 30 de maio de 1985, que foi o primeiro filho homem de sua geração. Seus avós, Waldemar e Maria Ruth passaram para ele ainda em vida a porção da propriedade com o moinho da família, para que assim se preservasse o sobrenome Weigert ligado a este lugar.

A Curitiba dos séculos XVIII e XIX, um pequeno núcleo urbano, era circundada por chácaras responsáveis por grande parte de seu abastecimento de subsistência, formando os “Campos de Coritiba” (KOTOVISKI, 2013, P. 15). A ligação com o núcleo urbano principal era realizada por meio de caminhos, como a antiga Estrada do Mato Grosso, hoje Rua Comendador Araújo, a Estrada de Santa Felicidade, a Estrada da Graciosa, que partia do Passeio Público e a Estrada do Assungui, entre outras. Estes eixos de circulação de pessoas e mercadorias deram origem às principais ruas de ligação do atual centro histórico aos bairros e Região Metropolitana de Curitiba. A colônia Assungui foi estabelecida pela Coroa Portuguesa em 1860, nas proximidades do Rio Ribeira, onde hoje se encontra o município de Cerro Azul (GALLARZA, 2013, P. 13). A estrada original possuía extensão de 98,593 quilômetros dividida em 11 seções de construção e manutenção, segundo o “Relatório Governamental da Província do paraná de 1866”. “O trecho que passava por Tamandaré era um ramal mais antigo já utilizado como caminho no século XVIII, ligado à estrada oficial pela ponte do rio “Arêas” na divisa de Rio Branco do Sul com o quarteirão curitibano de Tranqueira, seguindo pela estrada da Volta Grande por onde passava pelo Quarteirão do Boixininga até a altura da Estrada Colombo-Botiatuba, onde seguia para cruzar o Quarteirão do Botiatuba, onde acabava na precária ponte sobre o rio Barigui, na atual região do Taboão seguindo pelo caminho que deu origem a rua Mateus Leme em Curitiba até o Largo da Ordem que era o centro da capital na época (KOTOVISKI, 2013, P. 254).

A região provavelmente ficou conhecida como Taboão devido às tábuas grossas de madeira que foram utilizadas para construir as pioneiras pontes do século XVIII e que constantemente eram levadas pelas enchentes. Esta denominação é um ergotopônimo derivado da expressão: “Vamos passar pelo taboão” (KOTOVISKI, 2013, P. 147).

Foto família – década de 60

 

Colaboração: Ivilyn Weigert 

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