A festa em honra à Sant’Ana, padroeira da Colônia Abranches, se realiza desde os idos de 1901, anualmente no própria dia, 26 de julho, ou no final de semana mais próximo à magna data, tendo acontecido todos os anos desde então, com exceção de 1939 por problemas de estado de guerra e 2021 pelo rigor do isolamento da pandemia de Covid-19.
Ao longo destes 121 anos se observa a mudança de usos e costumes sociais e religiosos. A festa que nos primórdios do século XX acontecia com uma celebração de Santa Missa solene, com a presença de vários padres e autoridades administrativas do município e do estado, e, após o final da santa missa se fazia uma procissão com a imagem de Sant’Ana, ainda aquela barroca e pequena de madeira, sobre um andor ricamente ornamentado com flores naturais, por algumas ruas no entorno da igreja, hoje a procissão é motorizada, ganhou a companhia da imagem de São Cristóvão e percorre alguns quilômetros pelas ruas do Bairro Abranches.
A procissão com andor aos ombros era acompanhada piedosamente por todos os presentes cantando lindos cantos na língua polaca e latim, que eram as línguas usuais nas celebrações à época, mas as celebrações eram sempre na forma extraordinária do rito romano, como se define hoje, com o padre voltado para o altar, versus Deum, pois esta era a única forma de rito.
Após a celebração e procissão, o povo na sua grande maioria colonos, recebia a bênção e retornava às suas casas ao som do repicar dos sinos como despedida, e as autoridades, civis, militares e eclesiásticas, eram convidadas para um almoço na casa paroquial, construída desde 1876, atual salão Padre Henrique. Algumas famílias que vinham de outras colônias traziam os seus “farnéis” e almoçavam pelo pátio da igreja em estilo piquenique, pois como o deslocamento era em carroças, chegavam em casa apenas à noite. Há registros de grupos desde as Colônias Orleans, Dom Augusto, D. Pedro II, Lamenha Lins, Santa Gabriela, Santa Cândida e Antônio Prado. Naturalmente na festa do padroeiro destas, os paroquianos do Abranches também se faziam presentes.
Temos registros da presença normal de 500 carroças aproximadamente nas festas dos padroeiros. A igreja na Colônia Abranches ainda não tinha as naves laterais, porém também não possuía bancos, estes foram instalados apenas nos anos 50, logo, cabiam até 600 a 700 pessoas em pé, no interior do templo.
Ao longo dos anos, da segunda década do século XX em diante, com o aumento e urbanização da população, se iniciou a organização de almoços e atividades lúdicas para os paroquianos após as celebrações e procissão ainda piedosa e sobre os ombros dos devotos polacos. O almoço quase à campo acontecia nos atuais terrenos do início da Rodovia dos Minérios, defronte o cemitério paroquial e em um bosque existente no pátio onde hoje está a Sociedade Abranches, pois esta, ainda não existia fisicamente, uma vez que a sua construção data de 1932 a 1935 no atual terreno, e então todas estas terras pertenciam à Igreja Sant’Ana de Abranches. Interessante se observar no noticiário de época, que após a inauguração da atual sede da Sociedade Abranches, as festas de Sant’Ana tinham na sua programação anual o encerramento com um tradicional baile de gala e assim foi até os anos 50, quando ápice social da festa era o sarau dançante ou baile de encerramento, acorrendo a este evento a nata da sociedade polaca curitibana, de cônsules aos intelectuais.
A propósito, transcrevemos aqui, apenas uma das muitas publicações que temos em arquivo, esta do jornal Diário do Paraná, dia 26 de julho de 1946:
“Festa em Abranches. Promovida por um numeroso grupo de festeiros, realizar-se-á hoje no arrabalde de Abranches, tradicional festa de Sant’Anna.
O programa desta movimentada festividade, que de há anos movimenta grande grupo de fieis, constará de Missa Solene, celebrada pelo venerando e bem quisto pároco local, padre Goral e de procissão.
Ao meio dia haverá suculenta churrascada no aprazível bosque da Sociedade Abranches, seguindo-se depois o leilão de prendas, roda da fortuna e outras surpresas.
Nos salões da Sociedade será levado a efeito finalmente, um sarau dansante, movimentado por afinado jazz”.
Nota do redator: Observa-se no segundo parágrafo da matéria do Diário do Paraná, em itálico, a afirmação de que há anos movimenta grande número de fieis, logo, não poderia esta, de 2022 ter sido a 69ª festa, conforme temos afirmado.
Após os anos 50 do século passado, depois da construção da nova casa canônica, a paróquia passou a investir na construção de um salão paroquial mais amplo, o qual somado ao Salão Padre Henrique, destinado a finalidades sociais e pastorais dos paroquianos e as tradicionais barracas espalhadas pelo pátio entre a igreja a casa paroquial, acomodavam todo o povo que acorria aos festejos, quando, então já se iniciava com um tríduo preparatório.
A partir de 1964, a Paróquia Sant’Ana de Abranches adere ao modismo das procissões motorizadas e acrescenta a imagem de São Cristóvão aleatoriamente à padroeira local desde os anos de 1860, antes dos polacos por aqui chegarem, pois não há nenhum registro diocesano ou no livro de tombo, da divisão de devoção como co padroeiro oficial, entre Sant’Ana e São Cristóvão.
Nas festas de Sant’Ana, nos referimos assim porque é a única padroeira da comunidade, o que é inegável é a participação, a doação física, de toda uma comunidade, não só do território da paróquia, como de antigas colônias vizinhas, se criando uma verdadeira legião de voluntários, desde os grupos de canto para cada dia, acólitos e coroinhas, acolhida, equipes de liturgia, aqueles anônimos que abrem e fecham o templo, limpam-no diariamente para o próximo dia da novena, adornam o presbitério, enfim, se preocupam para que a celebração eucarística seja o mais belo e piedosa possível.
Para a parte lúdica e gastronômica então une-se às orientações do pároco um batalhão de dedicados cristãos. Este ano por exemplo registramos a presença desde crianças de 10 anos, acompanhadas pelos seus pais também participantes e muito felizes por já estarem servindo à igreja, até anciãos de 80 anos, que buscavam na fé a energia para seguirem servindo à sua paróquia mesmo já contando com tão avançada idade. Nestes detalhes da variação de idades dos voluntários é que está um dos segredos, cada um fazia exatamente aquilo que suas forças permitiam, porque a messe é grande e os “operários” são poucos.
Esta festa de 2022, que foi do dia 22 a 31 de julho, com novenas diariamente e muita diversão e degustação de pastéis, espetinhos, bolinhos de carne, bolos, pizza, café com leite, refrigerantes e vários doces. O salão de festas esteve cheio todos os dias, com as famílias confraternizando-se como há muito tempo não se via.
Conversando com lideranças da organização ouvimos que em todas as atividades, estiveram envolvidas nos trabalhos de organização 250 pessoas e a participação foi em torno de 2.000 pessoas no domingo, além de umas 300 pessoas diariamente, que acorriam ao salão de festas logo após a celebração da eucaristia.
Registramos felizes como paroquianos, além da presença dos vários padres celebrantes da novena, a participação da Presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro, do Vereador Mauro Ignácio, da Banda Lyra de Curitiba e outras lideranças regionais.
A programação da Festa da padroeira Sant’Ana, festejada juntamente com São Joaquim e São Cristóvão, este ano foi das mais completas em termos de liturgia, social e culturalmente.
Dia 22 de julho retornou à Igreja Matriz, após celebrações nas capelas com a sua presença, a imagem de Sant’Ana, recebida na praça defronte à igreja, pelos fieis devotos, pároco, padre Leandro Maeski, o celebrante do dia e a equipe de liturgia. Padre Leandro inclusive teve os seus últimos anos de formação aqui na Paróquia Sant’Ana de Abranches, deixando muita saudade pela forma carinhosa e competência que sempre se apresenta.
Sábado, dia 23 este celebrando o Padre Luciano Takarski, pároco da Paróquia Divino Espirito Santo, no Centro Cívico, fazendo uma profunda homilia. Dia 24, domingo, esteve celebrando o pároco da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de Araucária, Paraná, o qual também é o curador do museu e biblioteca da Casa Central Vicentina. O Padre Fabiano Spisla, que foi pároco em Abranches nos anos 90 do século passado e hoje administra a Paróquia São Braz, celebrou a eucaristia dia 25.
O Padre Odair Miguel Gonsalves dos Santos, que foi pároco no Abranches, antecedendo o Padre Carlos Luiz, e hoje é o visitador da Província Sul da Congregação da Missão, celebrou no dia da Padroeira Sant’Ana, 26 de julho. Dia 27 o celebrante foi o próprio pároco, Padre Carlos e dia 28, quinta-feira foi o pároco de Santa Cândida, padre Ilson Luis Hubner, o celebrante que nos visitou para a novena. O padre José Carlos Fonsatti, que também por aqui foi pároco nos anos 80, e atualmente é o administrador da Paróquia Santa Gema e Nossa Senhora das Graças, no Bairro Barreirinha, foi o celebrante do dia 29, sexta-feira.
Sábado, dia 30 fechando a novena o celebrante foi pároco Luiz Alberto Kleina, da Paróquia Imaculada Conceição, no Bairro Guabirotuba, mas tem uma forte ligação com o Bairro Abranches, porque aqui nasceu, estudou e desenvolveu a vocação sacerdotal. Inclusive os seus familiares, descendentes dos pioneiros polacos da região, ainda moram no bairro.
A celebração da Santa Missa solene, direção da procissão motorizada e bênção dos automóveis, do dia 31 de julho coube ao pároco, Padre Carlos Luiz Bacheladenski.
Transcrevemos a seguir a bela mensagem transmitida pelo Padre Carlos, no convite dirigido aos paroquianos e visitantes:
CONVITE
“DEUS PEDE PRIMEIRO O CORAÇÃO E SÓ DEPOIS AS OBRAS”
São Vicente de Paulo I, 131
Saúdo com gratidão e estima a todos a quem chegar esta mensagem e convite!
A Paróquia pode realizar muitas atividades sociais, culturais e religiosas. Mas seu objetivo principal é proporcionar aos seus membros uma rica experiência de fé cristã católica, alimentada pela Palvra de Deus, pela Eucaristia, pela Tradição viva, pela Liturgia, pelos Sacramentos, pela caridade, levando assim a riqueza do seguimento a Jesus Cristo, missionário e evangelizador. Esse propósito nos leva a glorificar, em primeiro lugar, o Dom da vida preservado em meio as provações sofridas pelo Covid-19 e, em segundo, lembrar em nossas preces àqueles(as) que, ceifados pela morte, não estão mais entre nós.
A pandemia nos trouxe inesperadas mudanças nas nossas vidas, em nossas relações, sejam elas pessoais, familiares, comunitárias, espirituais e profissionais.
Há dois anos, nossa comunidade de fé privou-se em festejar publicamente nossa Padroeira SANT’ANA.
Neste período, no isolamento, alimentamos a vontade de não ver a hora chegar para estarmos reunidos presencialmente para celebrar a nossa fé em Jesus Cristo (programação litúrgica) e festejar nossa Padroeira (programação gastronômica e lúdicas).
Neste desejo, eu Pe. Carlos, em nome do CPP e CAEP, convido a você e sua família e amigos, a participarem conosco conforme programação. Que a nossa experiência com Cristo seja favorecida pelo testemunho luminoso de Sant’Ana, São Joaquim e São Cristóvão e, desse modo, enriqueçamos a vida de nossa Paróquia e comunidade.
Fraternalmente,
Pe. Bacheladenski, Carlos Luiz, CM
PÁROCO
Colaboração: Volnei Lopes da Silva, historiador.